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31.10.2022
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Eco

Adolfo Mesquita Nunes talks to ECO about his book “A Grande Escolha”

Adolfo Mesquita Nunes acaba de publicar “A Grande Escolha” , onde faz uma defesa da globalização. Ex-secretário de Estado do Turismo assume-se como “um adepto da direita das liberdades”.

Um dos rostos da ala liberal do CDS, Adolfo Mesquita Nunes acaba de publicar “A Grande Escolha” — um ensaio onde faz uma defesa da globalização. Numa entrevista sobre a obra — e muito pouco sobre política partidária — o ex Secretário de Estado do Turismo, sócio da sociedade de advogados Gama Glória e vereador do CDS na Câmara da Covilhã defende que não há políticas públicas para as classes mais vulneráveis. Sobre o CDS, fala pouco: “vai-me desculpar mas não quero falar do partido”. Assume-se como “um adepto da direita das liberdades” e assume que quanto mais “estatizante e fechado for o nosso modelo, mais pobreza é multiplicada”. No livro, faz um apelo à direita e à esquerda que concordam com a economia de mercado, com o livre comércio e com as liberdades de circulação, para que continuem a usar esses instrumentos na proteção dos mais desfavorecidos. E sublinha que o espaço foi ocupado pelos populistas, de esquerda e de direita, “que se convenceram de que só podemos vencer se afastarmos a concorrência de novas ideias, novos trabalhadores, novas empresas, sobretudo se estrangeiras”.

Qual a necessidade de escrever este livro?

Boa parte do pensamento político que está a ser publicado parte do pressuposto que a globalização foi um erro, que a economia de mercado fracassou. Esse pressuposto está cada vez mais generalizado, mesmo na minha área política, e senti que tinha de participar no debate, demonstrando o quão errado esse pressuposto está. Ao contrário do que parte da direita pensa, a guerra cultural do nosso tempo não é a da destruição dos nossos valores morais, é a da superação do modelo económico que mais prosperidade trouxe à Humanidade: o Mundo aberto e global atravessado por liberdades de circulação. É isso que está sob ataque.

Adolfo Mesquita Nunes em entrevista ao ECO – Fotografia de Hugo Amaral/ECO

Vamos lá tentar responder a esta questão genérica: porque é que a globalização deve ser mantida?

Porque foi o maior instrumento de prosperidade da humanidade. Pensamos que as nossas liberdades de escolha (inéditas na história da Humanidade) e o abundante acesso a bens e serviços (também inédito) são facto consumado. Não são. O abundante acesso que temos a comida, serviços, viagens, equipamentos ou tratamentos médicos não existe desde sempre e deve-se à abertura das economias, ao livre comércio e aos seus efeitos. Romantizamos o tempo dos nossos pais, mas o português médio é hoje quase três vezes mais rico do que era em 1980 (valores ajustados), isto para não falar de mortalidade infantil, direitos das mulheres, literacia, cuidados de saúde ou oportunidades de realização pessoal. O que digo no livro, e quero realçar, é que a globalização pode e deve ser melhorada. Boa parte do livro dedica-se a demonstrar de que forma podemos maximizar as suas oportunidades e mitigar os seus riscos, não deixando ninguém para trás.

“O que digo no livro, e quero realçar, é que a globalização pode e deve ser melhorada.”– Adolfo Mesquita Nunes

Por que razão a direita não está a seguir o caminho sugerido pelo seu livro?

É caminho que está à espera de ser ocupado. Há quase uma corrida, da esquerda e da direita, ao discurso protecionista, que é particularmente derrotista: basicamente dizem às pessoas que elas são perdedoras natas, feitas para o fracasso, pelo que a única forma de nos aguentarmos é proibirmos o que vem de fora para nos desafiar. Espero que este livro possa inspirar alguma mudança nesse rumo: temos de liderar a mudança, não esconder-nos dela.

Adolfo Mesquita Nunes em entrevista ao ECO – Fotografia de Hugo Amaral/ECO

O que tem a dizer aos jovens que se sentem estagnados e a viver em piores condições que os seus pais? Mesmo que isso não seja verdade, essa convicção, só por si, tem efeitos nefastos…

Estas novas gerações viveram quase sempre em crise e têm bastas razões de queixa, porque os governos não têm feito o que deviam. Insisto no livro na necessidade de termos reformas nas áreas laboral, fiscal, formação profissional, investigação, para satisfazer exigências que me parecem justíssimas: melhores salários, mais oportunidades. E elenco que reformas são essas. E o meu ponto é este: quanto mais estatizante e fechado for o nosso modelo, mais pobreza é multiplicada. Temos de apostar na criação de riqueza. É curioso que andamos sempre com o modelo escandinavo na boca mas depois nunca queremos fazer as reformas que eles fizeram para sustentarem o modelo de distribuição de riqueza que criaram.

A pandemia pode afastar-nos da China ou as relações estão já demasiado profundas?

Ainda antes da pandemia já a União Europeia tinha alterado a sua relação com a China, na sequência dos sinais de inversão da abertura chinesa. A China é agora vista como um rival económico na corrida para a liderança tecnológica e um adversário sistémico que promove modelos alternativos de governação. Estou de acordo com essa abordagem, e é preciso que se diga que, para além de não ser uma democracia liberal e de ter pesado histórico na relação com as liberdades e direitos humanos, a China não só não é uma economia de mercado, porque é um capitalismo de Estado, como também se exime a abrir equitativamente o seu mercado. É por isso que me defendo uma abordagem multilateral de força, do Mundo livre, para obrigar a China a uma política de reciprocidade.

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